sábado, 31 de outubro de 2009
121ª - O Cão e a Ceia do Dono - 'Show do Bossa'
Ars longa, vita brevis
Longa é a arte, curta a vida
Bom sábado amigos! A fábula de hoje é mais uma das adaptações, visto que na Grécia antiga dificilmente ocorreriam tais atores. Mas fica uma bela lição de moral e ética sobre a tentação e seu poder. Como hoje é sábado, a prosa ESSES OLHOS VIRAM...
...no início da década de 60, o ritual sabatino de ir ao cinema e depois, degustar um 'baurú ao pão' no restaurante "A Cigana". Não é preciso um exercício mental para vislumbrar o encanto deste fato. O ambiente enfumaçado, o olor misturado dos temperos e a turba ao redor do balcão. Atrás dele uma chapa avermelhada pelo calor, uma coifa gigante que não dava conta da fumaça e um malabarista - Bossa era seu nome -. Aos pulos e dançando, gritava os números das senhas - felizardas contempladas com os acepipes prontos naquele instante -. Enquanto chamava, já adiantava mais uma remessa.Comia-se na mão mesmo. Sobre a chapa, dezenas de bifes, conjuntos de presunto e queijo e o pão, todos com o tempo certo de cozimento e aquecimento, casando-se apenas no último momento: o pão aberto e os recheios... Todo o charme estava nas várias garrafas ao alcance das mãos mágicas dele. Giravam no ar num verdadeiro exercício de palco. Eram os molhos verdes (aspergidos apenas nas carnes) e até hoje pesquisados por seus seguidores.
Certa vez, em Garibaldi, no café de nossa propriedade, surgiu a idéia de fazermos algo parecido. Por amizade, o Bossa, se dispôs a ensinar alguns macetes da arte. Levamos ele até lá num fim-de-semana. Foi apoteótico. Os clientes vinham em magotes. Era show... Durante as viagens de ida e volta, soubemos que ele iria inaugurar seu próprio restaurante em algumas semanas. Ria e contava piadas, os fatos da sua vida, de como viera do nada e o segredo máximo - (claro que não revelado totalmente, apesar de nossos rogos) - os molhos verdes que sua avó lhe ensinara. Deu-nos para esta pseudo-franquia, várias garrafas. Sucesso absoluto e garanto que até hoje há quem recorde. Duas semanas depois destes momentos alegres, ele se enforcou, justo na noite da inauguração do seu "Restaurante Bossa". A cidade silenciou. Seu sócio e os empregados levaram adiante o projeto, mas nunca mais o segredo dos temperos verdes... pois ele o levou consigo. As ervas usadas foram até mencionadas no papo da viagem: sálvia, coentro, salsa, salsão, cebola verde, alho porró, osmarin (alecrim = Rosmarinus officinalis ), manjerona, mangericão, tomilho, orégano, cominho, pimenta preta e...água (algumas ervas picadas, outras inteiras) . Um tempo de cura e o molho estava pronto para ser aspergido sobre a carne já assada. Inigualável. O segredo? Era a proporção!
O Bossa deve estar servindo as mesas celestiais. Gratos por teres existido.
121º - O Cão e a Ceia do Dono
Um Cachorro havia sido ensinado a levar o jantar do seu patrão diariamente até ele. Como a cesta cheirava coisas boas, ficava ele extremamente tentado a prová-las, mas resistia à tentação e continuou a tarefa dia após dia, levando a cesta fielmente.
Um dia, todos os cachorros do bairro o seguiram com olhos ardentes e as mandíbulas gananciosas, tentando roubar o jantar da cesta. No princípio, o fiel cachorro procurou correr para longe deles, mas o perseguiram até o fim. Parando para discutir com eles o que desejavam, foi ridicularizado pelo que disse: “Muito bem, eu dividirei com vocês,” e agarrando o melhor pedaço de galinha na cesta, deixou o resto para os outros desfrutarem.
Moral:
“Quem parlamenta com a tentação, irá provavelmente render-se”.
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