domingo, 28 de fevereiro de 2010

200ª - A Gaivota e o Gavião

Optimi natatores saepius submerguntur
Até o melhor nadador se afoga




Bom domingo! A fábula de hoje, a 200ª traduzida - duocentésima ou ducentésima? Eu apostava todas fichas na primeira opção. Tocou o sininho e fui conferir: é a segunda! - trata sobre como o inconveniente expõe ao ridículo. O comentário do gavião mostrou sua ignorância. Cuidemos não imitá-lo. Quando traduzi o primeiro livrinho, foram 82 fábulas, era o compromisso. Algo me empurrou e já estamos aqui.Continuaremos em frente, com alguns comentários e buscas de pérolas...


200ª - A Gaivota e o Gavião

Uma Gaivota que se sentia mais em casa nadando no mar que caminhando na terra, tinha o hábito de pegar peixe vivo para seu alimento. Um dia, ficou engasgada com um peixe muito grande, que estourou sua goela, obrigando-se a deitar na praia para morrer. Um Gavião vendo-a e pensando ser um pássaro de vida terrena como ele próprio, exclamou: "Você realmente merece este destino; pois um pássaro que vive na terra, não tem nenhuma vantagem em buscar sua comida no mar”.

Moral:

"Todos deveriam se contentar com seu próprio assunto.”.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

199ª - O Corvo e o Cisne


Lignum quod tortum haud unquam vidimus rectum
Pau que nasce torto não tem jeito, morre torto



Bom dia amigos! A fábula de hoje, simples e direta, ensina que da natureza só se pode esperar a evolução. Achar que por alguma mudança de hábito, conquistaremos características alheias, é muita pretensão. Seguir o destino, aprimorando a postura da inteligência, é caminho evolutivo.O resto é conversa. Até amanhã...



199ª - O Corvo e o Cisne

Um Corvo viu o Cisne e desejou ter para si uma plumagem de igual beleza. Supondo que o a sua esplêndida cor branca surgia do lavar na água na qual ele nadava, deixou os ares da vizinhança do onde vivia e levou o seu lar para os lagos e lagoas. Mas mesmo molhando suas penas tão freqüentemente quanto podia, não pôde mudar a sua cor e pela falta de comida, pereceu.


Moral:


"A mudança de hábitos, não pode alterar a Natureza.".

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

198ª - O Rato e a Rã - poeminha 'O Tudo e o Nada'

Bom dia prezados amigos! A fábula de hoje, traduzida em obediência ao livro original, é quase uma fiel cópia da fábula nº 185, faltando apenas o falcão, trocado pelo gavião. A essência é a mesma.

Nossa prosa ESSES OLHOS VIRAM... conclui hoje a viagem proposta, esperando que tenha divertido. Até mais.

... Um sorriso matreiro do meu crânio mostrou toda sua alegria por tê-lo descoberto. A antiga imagem no espelho, a normal, permuta-se e agora e vejo a outra face da existência. Não importa de quem for ele, ou quanto viva, certamente existirá bem mais que os tecidos. Traz consigo um código genético cósmico, o da evolução.
Meu poema ao nosso belo amigo!

O NADA E O TUDO – Accorsi JC

O tudo que nada traz,
Nada mais que nada é.

Quando hoje enxergas,
Sobrevirá a mudez do olhar
Ora ouves o dizer,
Virá a surdez do falar

Recitas falas da dor,
Serás cego para ouvir.
Sentes o olor da flor,
Insosso será teu sentir.

É suave teu roçar,
Está escrito, serás
Inodoro ao tocar,
Leveza nem mais terás.

Aqui, pensas como atuar,
Pois carregas uma mente,
Ali, pararás sem pensar,
Negando o próprio ente.

.Hoje, nada é tudo,
Mas tudo será nada.
Pó, de estrelas somos,
Em eterna invernada.

O nada que tudo faz,
Tudo em nada será!




198ª - O Rato e a Rã

Um Rato certo dia onde tudo deu errado, conheceu uma Rã e eles saíram juntos para viajar. A rã pretendendo um grande afeto e de manter o seu companheiro sem riscos, amarrou o pé do Rato à sua própria perna. Assim procederam por certa distância do caminho. Quando chegaram num charco a Rã pediu ao Rato coragem e começou a nadar. Porém, ao chegar meramente a meio caminho, a Rã deu um mergulho súbito ao fundo, arrastando o infeliz Rato atrás de si. Os dois, lutando e tropeçando, fizeram tamanho alvoroço na água que chamaram a atenção de um gavião que, se lançou sobre ambos e apanhando o Rato, levou consigo ao mesmo tempo, a Rã.

Moral:

"Alianças imprudentes e desiguais, terminam em ruína; e o homem que planeja a destruição do seu vizinho é pego freqüentemente em sua própria armadilha.".

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

197ª - O Rato e o Elefante - Nosso crânio 2/2

Magis consiliarius est, quam auxiliarius
É mais fácil aconselhar que praticar


Bom dia a todos! A fábula de hoje, fala sobre a 'pretensão' e como devemos guardar respeito. É uma narrativa colorida e quase extensa demais para contar-nos sobre o castigo deste pecadilho. Nossa prosa continua e ESSES OLHOS VIRAM...


...que todos temos um crânio para ver, tocar e pensar, como faziam antigamente. Apenas que ele ainda está com músculos, tendões, vasos e linfas, órgãos e glândulas, pele e capilaridade. Nosso simpático rosto! Basta um pequeno exercício mental e com as pontas dos dedos sentiremos o seu perfil. Esta é a grande viagem de que falei. Com a mão, - direita ou esquerda -, empalmamos a fronte e com leve pressão dos dedos, massageamos os lados da testa. Aos poucos, sentiremos os ossos; o frontal (testa), os parietais (direito e esquerdo, formando os lados e a abóbada do crânio), os temporais (as têmporas). Com cuidado, seguimos a borda das cavidades orbitais – duas delicadas tocas que abrigam nossos olhos. A cartilagem do nariz, que desaparece primeiramente, está ligada ao osso nasal da face e fácil sentir onde. O osso zigomático, o das ‘maçãs do rosto’, com forma triangular. .A mandíbula e o maxilar sustentando a dentição, o vômer (apenas citado, pois é inalcançável pelo tato, mas é um osso único que centraliza nossa face). Continuando o passeio, com cuidado será possível sentir os orifícios que existem na ossatura, um abaixo de cada olho e nos lados - esquerdo e direito -, do queixo, sob a pele.

Abraçando com as duas mãos, sem receio em desmanchar o penteado, sinta toda a esfera do crânio ali estarão (apenas citados); o osso esfenóide (parece uma borboleta ou morcego com asas abertas), e o etmóide (base do crânio), o occipital (parte posterior do crânio) que junto com os citados acima, formam o quebra-cabeça da cabeça.

TO BE CONTINUED



197ª - O Rato e o Elefante


Um Rato viajando na estrada encontrou um enorme elefante, carregando seu patrão real numa portentosa tenda, juntamente com seu gato favorito, o cão de caça, o papagaio e o macaco. A grande fera e os criados do marajá eram seguidos por uma multidão de admiradores, seguindo todos pela estrada.

"Que bobos vocês são," disse o rato às pessoas: “... fazer tal burburinho por causa de um elefante. É o seu grande tamanho que vocês admiram tanto? Pode até amedrontar, mas só os meninos e meninas pequenos, mas eu também posso fazer tão bem como ele. Eu sou uma fera tal como também ele, com pernas e orelhas e olhos. Ele não tem o direito de ocupar toda a estrada, que pertence a todos, tanto como a mim, como a ele.".

Neste momento, o gato viu o rato e, saltando ao solo, logo o convenceu que ele não era um elefante.


Moral:


"Porque somos iguais aos grandes, em alguns aspectos, não devemos pensar que somos como eles em tudo.".


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

196ª - A Rã Tagarela - Nosso crânio 1/2

Cum dixeris quod vis, audies quod non vis
Quem diz o que quer, ouve o que não quer

Bom dia pessoal! A fábula de hoje nos mostra o ridículo quando se pretende subir 'além das chinelas'. Não prometer o que não se pode cumprir é a lição de ética desta historieta.

A prosa ESSES OLHOS VIRAM... retorna com um périplo que achei interessante. Espero não ser maçante. BOA LEITURA e até amanhã.

...e relatam uma viagem memorável. Antes um curioso esclarecimento. Na Idade Média era costume manter-se sobre as escrivaninhas ou estantes dos escribas, pensadores, monges e estudiosos, um crânio, ora sem a mandíbula, ora com ela. Em busca das razões para isto, fui à busca da explicação. Seria uma macabra morbidez? Por fim, encontrei o porquê de tal costume. Nada mais do que a simples lembrança da finitude humana e o que resta após a vida
.
Aquelas pequenas caixas ósseas, ali sem pensar, nem agir, sem visão ou audição, sem paladar ou olfato, certo dia, raciocinaram, atuaram, enxergaram estrelas, ouviram ondas do mar, experimentaram um tempero novo e que recitaram um verso, repousavam – quietas -, numa função primordial.

William Shakespeare pôs um de seus personagens, Hamlet, mirando um crânio dizendo: “Ser ou não ser, esta é a questão!”.

Contemplar a nós mesmos nesta forma é muito complicado, mas encontrei como e isto, partilharei com todos vocês.

TO BE OONTINUED



196ª - A Rã Tagarela

Uma Rã proclamou certa vez, a todas as feras que ela era uma médica instruída e capaz de curar todas as doenças. Uma Raposa lhe perguntou: "Como você pode fingir em prescrever para os outros, quando você não pode curar o seu próprio andar manco e sua pele enrugada?".

Moral:

"Aqueles que fingem poderem curar os outros, deveriam primeiramente se curar e então obterão mais prontamente os créditos.".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

195ª - O Profeta


Sapiens est, qui tacere novit
Sábio é quem fica calado

Bom início de semana! A fábula de hoje nos alerta sobre como devemos ser perante as situações da vida. Prometer aos outros, algo que não façamos a nós próprios, depõe contra nossa sabedoria. Até amanhã...



195ª - O Profeta


Um Mago Feiticeiro, sentado na feira, dizia as sortes de quem passasse por ali. Alguém, subitamente apareceu correndo até ele e anunciou que as portas da sua casa tinham sido arrombadas e que todos seus bens estavam sendo roubados. Ele suspirou pesadamente e correu tão rápido quanto podia. Um vizinho que o viu correndo, sabendo ser uma brincadeira, disse: "Oh! Você acredita nesse paspalho? Você diz que pode predizer as sortes dos outros; como não previu a sua própria"?


Moral:


“Santo de casa não faz milagres!”


sábado, 20 de fevereiro de 2010

194ª - O Porco-espinho e as Cobras

Inepta est largitio, quae indignis accidit
Fazer bem a velhaco é lançar água ao mar


Bom sábado a todos! A fábula de hoje enfoca o cuidado com que devemos exercer a fidalguia e a hospitalidade. Generalizá-las pode trazer inconveniências às nossas existências. Causar a inconformidade para os outros, ser incongruente, inadequado, indelicado, incivilizado, indiscreto ou fomentar a grosseria, vai contra todos princípios éticos. Boa lição evitar isto tudo. Até mais ver...


194ª - O Porco-espinho e as Cobras


Um Porco-espinho querendo se abrigar, pediu para ser acolhido num ninho de Cobras e se pudesse ser admitido em sua caverna. Elas foram desprevenidas e o deixaram entrar; mas as pontas dos seus espinhos eram tão afiadas que de imediato se aborreceram e sobreveio o arrependimento de suas complacências e pediram ao Porco-espinho para se retirar e deixar a sua toca. “Não," disse ele, "deixem o lugar os que não gostarem; de minha parte, estou bem satisfeito como estou”.

Moral:

"Hospitalidade é uma virtude, mas deve ser sabiamente exercida; podemos, por negligência, abrigar os inimigos ao invés de amigos".

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

193ª - O Asno Brincalhão


Asini lanam quaerere
Buscar lã ao asno


Bom dia a todos! A fábula de hoje, mais uma das adaptações seguramente dos contos de Esopo, traz o espírito de tantas outras, aquele mesmo, o de sabermos nosso lugar. Desta essência, são inúmeras as lições nos passadas por estas historietas. Manter o 'desconfiômetro' ligado é nossa missão. Até amanhã...



193ª - O Asno Brincalhão

Um Asno subiu no telhado de uma construção e, brincando sobre ele, quebrou várias telhas. O dono perseguiu-o e mais que depressa o trouxe para baixo, surrando-o severamente com um grosso pedaço de madeira. O Asno disse: "Por quê? Eu vi o Macaco fazendo a mesma coisa ontem e todos vocês riram cordialmente, como se fosse uma grande diversão".

Moral:


"Quem não sabe o seu lugar, deve ser ensinado!"



quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

192ª - O Pavão e a Gralha

Errando, discitur
Errando, se aprende



Bom dia! A fábula de hoje, dá-nos uma lição fundamental, a de não nos iludirmos pelas aparências. Ao menos no conto, ainda se cancelou a escolha. Pudéssemos assim proceder, a sociedade estaria mais protegida. Amanhã tem mais. Até lá...

192ª - O Pavão e a Gralha

Certa vez os Pássaros se reuniram para escolher um rei e entre outros, o Pavão era um sério candidato. Abrindo em leque sua vistosa cauda, caminhando para cima e para baixo com grande afetação, ele fixava os olhos da tola multidão pela sua brilhante presença, sendo então, eleito por aclamação. A Gralha entrou então diante da assembléia reunida e assim falou ao novo rei: “Posso agradar sua majestade eleita, para permitir a uma humilde admiradora colocar uma pergunta. Como nosso rei, nós poremos nossas vidas e fortunas em suas mãos. Então, se a Águia, o Urubu, e a Pipa, fizerem um ataque a nós, que meios você usaria para nossa defesa?”. Esta pergunta expressiva abriu os olhos dos Pássaros à fraqueza de sua escolha, obrigando-os a cancelarem a eleição.

Moral:

“Beleza não põe mesa!”

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

191ª - Os Bois e os Açougueiros

Tarde, sed tute
Devagar se vai ao longe



Bom dia caros amigos e amigas. A fábula de hoje, como poucas, toca no assunto 'tanatos' de forma sutil. A morte como castigo é uma constante no mundo esopiano, mas tratada como irremediável fim, poucas vêzes. O velho e matuto boi da historieta, já prenuncia a sua passagem e clama serem os algozes especialistas, ou seja, minimizando o sofrimento. É um assunto que cada um pode e deve refletir, não de forma costumaz, mas sim, como oração de alento.


191ª - Os Bois e os Açougueiros

Foi uma vez, os Bois buscaram destruir os Açougueiros que praticavam o comércio destrutivo para sua raça. Eles se juntaram num certo dia para levar a cabo tal propósito e afiaram os seus chifres para a batalha. Um deles, extremamente idoso (muito judiado por arar os campos), assim falou: “Estes Açougueiros, é verdade, nos matam, mas eles o fazem com mãos hábeis, e sem dor desnecessária. Se nos livrarmos deles, estaremos em mãos inexperientes e assim sofreremos uma morte dolorosa: para vocês pode estar assegurada esta libertação e que todos os Açougueiros devam perecer, contudo nunca ide aos homens que apreciem carne de boi".

Moral:

"Não tenha pressa em trocar um mal pelo outro.”

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

190ª - Os Bois e as Rodas da Carroça - O Trem 3/3

Labor ubique est
Aonde irá o boi que não are?


Bom dia amigos e amigas! A fábula de hoje nos conta como, às vêzes, quem realmente leva a carga pesada, fica calado e se esmera na tarefa, enquanto os próximos clamam e encenam cenas escandalosas, ao menor esforço.A lição passada é a de que nunca façamos o papel de ridículos.


A prosa ESSES OLHOS VIRAM... encerra a viagem de trem, deixando a nostalgia como bagagem a ser retirada do porta-volumes de nossas memórias, por quem ler estes escritos..


...As estaçõezinhas nomeadas no início desta prosa, não passavam de minúsculos estrados, próximos a algumas residências ou pousadas balneárias. Com a torre e a caixa de água e as pilhas de toras enfileiradas - para realimentar a locomotiva -, ali ficavam desertas na maior parte do tempo. Na parada dos trens, eram operações repetitivas as de reabastecê-lo e enquanto o maquinista e o foguista, em movimentos artísticos, desenrolavam mangueiras ou carregavam a lenha, todos passageiros ficavam observando o espetáculo. .Só faltava o aplauso ao final da apresentação. Os mais calejados em viagens desciam para fumar ou merendar, sabendo de antemão o tempo disponível. Os iniciantes como nós, relutantes em descer, - por receio de ficarem abandonados naquela solidão -, iam de vagão em vagão, explorando a melhor vista de todo a azáfama. Recordo de algumas mangueiras a esguichar água por dezenas de furos e rasgos e outras novinhas, inchadas pela pressão e felizes em sua tarefa.

Na época, com tráfegos mínimos nas estradas, os cruzamentos das linhas férreas com as rodovias eram pontos de seguidos acidentes. O desnivelamento exagerado entre os leitos de ambas as pistas, provocava o constante apagar de motores dos carros antigos, sobre os trilhos. Daí, os apitos incessantes do trem ao aproximar-se de uma passagem, serem nossa diversão. Havia uma placa em cada cruzamento, em formato de X e cada braço dele escrito: CUIDADO - PARE – OLHE - ESCUTE.

Foram périplos que marcaram minha memória. Não havia naquele tempo máquina fotográfica, nem filmadora - portáteis -, mas a Maria-Fumaça mereceria uma recordação de cada um que nela andou.

Minha homenagem ao trem.


Foto: Estação Férrea de Desvio Blauth - década de 50


190ª - Os Bois e as Rodas da Carroça

Uma pesada carroça estava sendo arrastada ao longo de uma estradinha rural por um conjunto de Bois. As rodas em torno dos eixos gemiam e rangiam terrivelmente, quando os bois, virando em volta delas, disseram: “Alto lá! Por que você fazem tanto barulho? Nós agüentamos todo o trabalho, e quem deveria clamar seríamos nós, não vocês!”.

Moral:

"Quem sofre mais, clama menos!”

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

189ª - O Velho e os Três Jovens - O Trem 2/3

Vivere tota vita discendum est
Vivendo e aprendendo


Bom dia e bem-vindos! A fábula de hoje trata da forma como devemos encarar nossa existência: curta, rápida e fugaz. A lição é fenomenal e o ensinamento fundamental. A moral concentra a sabedoria de um viver mais proveitoso e marcante.

A prosa ESSES OLHOS VIRAM...segue contando o périplo com o trem. Boa leitura e até mais.

...Jamais esquecerei os resfôlegos da locomotiva e o cheiro maravilhoso da lenha a queimar juntamente com a hulha. As rodas começaram a ranger e patinar contra os trilhos, tentando arrastar o peso. Os assovios agudos penetravam nos tímpanos e seguiam até as bordas dos dentes, numa sensação arrepiante. O guarda-linha na plataforma apitava histerico e simultaneamente, badalava uma sineta pendurada no balaústre lateral, no final da estação. Quereria ele vir conosco? A locomotiva por sua vez, gritava em apitos ensurdecedores. Olhei pela estação e não vi ninguém correndo e tentando embarcar, em obediência a tantos sons. Conclui: era a ‘ópera’ deles.

Naquela altura já tínhamos explorado toda viatura. O encanto ficara pelo vagão-bar, onde os cartazes das extintas bebidas MARABÁ, CRUSH - ambas com laranja -, e GRAPPETTE -suco artificial de uva -, concorriam em beleza com os reclames da eterna COCA-COLA. Os recipientes de vidro, gigantescos, cheios com balas multicoloridas, ainda repicam na retina, como as cores de um caleidoscópio.

Aos poucos, todo o conjunto de vagões – de passageiros e o das toras de lenha – além da locomotiva, iniciou a correr. O sino ainda batia na estação quando fizemos a primeira curva. O balanço lateral do vagão assustou-me um tanto, mas acostumei logo. Coloquei o rosto pela janela, vislumbrando lá adiante a máquina e o foguista. A nuvem de fagulhas e fumaça que me atingiu em cheio, deixou meu olho esquerdo em fogo. Um cisco de carvão ardente já havia feito o estrago. Por dias, aquela dor me acompanharia. Foi daí a dedução do porquê os assentos disporem de costados reversíveis. Nada como colocar o rosto ao vento de um trem em marcha, mas livre das fagulhas que saiam voando da locomotiva. O cobrador - uniformizado tal Charles de Gaulle -, andava pelo vagão inquirindo pelos bilhetes e nele - solenemente -, fazia um picote em forma de estrela, utlizando um instrumento que trazia na mão, com uma postura de ‘torreão da justiça’.

foto: Estação Férrea de Caxias do Sul - hoje desativada.

TO BE CONTINUED



189ª - O Velho e os Três Jovens

Como um Velho estava plantando uma árvore, três jovens vieram e começou a fazer graças com ele, dizendo: "Mostra sua tolice estar plantando uma árvore na sua idade. A árvore não pode frutificar por muitos anos, enquanto você morrerá muito logo. Qual o seu ganho desperdiçando tanto tempo, provendo prazer a outros compartilharem, muito tempo depois que você estiver morto?”.

O homem velho parou o seu trabalho e respondeu: "Outros já o fizeram antes de mim e, no entanto, para minha felicidade estou usufruindo. É meu dever prover para os que virão depois de mim. E mais, como estar vivo e seguro disto, por mais um dia? Vocês todos podem morrer antes de mim".

As palavras do velho se tornaram realidade; um dos jovens foi viajar no mar e submergiu, outro foi para guerra e foi atingido e morreu e o terceiro caiu de uma árvore e quebrou o seu pescoço.

Moral:

"Não devemos pensar unicamente em nós mesmos, mas sim lembrar que a vida é incerta".

sábado, 13 de fevereiro de 2010

188ª - O Velho Cão de Caça - O Trem 1/3

Veritas temporis filia est
A verdade é filha do tempo


Bom sábado a todos caros leitores(as). A fábula de hoje tem conteúdo por demais visto nos dias atuais, ou seja, as fraquezas originadas pelo tempo, estigmatizam os conceitos sobre as pessoas. Parece que a experiência ou a vivência perdem o valor, tanto hoje como à época da fábula. A espécie humana saberá rever isto?


A prosa de hoje ESSES OLHOS VIRAM... resgata a memória do trem e suas indeléveis impressões causadas a quem nele andou. Boa leitura e até mais.


...Farroupilha, Desvio Machado, Desvio Blauth, Caruara. Pequenas estações no curso de uma viagem de aproximadamente 50 quilômetros entre Caxias do Sul e Garibaldi. Início da década de cinqüenta. Uma das últimas vezes que vi meu avô vivo e saudável, pois logo adiante seu coração o levaria rumo ao fiume Pó (Rio Pó no norte da Itália, de onde provieram seu pai e seu avô).

Recordo a felicidade e a balbúrdia da estação férrea, com os preparativos da partida. Os vagões enfileirados, a máquina fumegante, os vendedores de pastéis e frutas nas cercanias. Os assentos de madeira, dos vagões, lustros e lisos, com encostos pendulares. Você escolhia ficar com as costas para o sentido do curso ou vice-versa. Logo em seguida descobri porque de tal opção. As largas janelas tinham os vidros escamoteáveis que permitam abertura total. Lembro os lustres no teto do vagão, sem dúvida para alguma viagem noturna. As madeiras predominavam nestes veículos. Apenas as rodas e as molas eram de aço ou ferro fundido. O interior do vagão era todo lustroso, impecável.


Foto da estação Desvio Blauth na época (l954)


TO BE CONTINED



188ª - O Velho Cão de caça


Um Cão de caça que em sua mocidade e força, jamais se rendera para qualquer fera da floresta, encontrava-se em idade avançada, perseguindo um javali. Ele o agarrou corajosamente pela orelha, mas não pôde retê-lo por causa da decadência de seus dentes, de modos que o javali escapou.

O seu patrão surgindo em seguida ficou muito desapontado e ralhou ferozmente o cachorro. O mesmo observou e disse: "Não foi minha culpa senhor; meu espírito de luta foi tão bom quanto sempre, mas não pude ajudar por causa das minhas fraquezas. Eu mereço ser elogiado pelo que fui não ser culpado pelo que sou”.


Moral:


"Ninguém deveria ser culpado por suas fraquezas da idade".



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

187ª - As Mulas e os Ladrões

Consilium a quocumque, senes etiam, accipe prudens


Ainda que sejas prudente e velho, não desprezes um conselho



Bom dia a todos! A fábula de hoje nos mostra o infortúnio do exibicionismo. Cabe a palavra 'discrição' em nossas vidas. A qualidade máxima desta palavrinha pode ser dita como discernimento entre o agir certo e o agir errado. Com tal reflexão, nossas vidas seguem num ritmo bem mais fluido e legal. Boa leitura e até mais...

187ª - As Mulas e os Ladrões

Duas Mulas carregadas com sacos estavam marchando juntas. Uma carregava moedas e a outra, grãos. A Mula que levava o tesouro caminhava com a cabeça erguida balançando os sinos presos ao seu pescoço, para cima e para baixo. A companheira dela seguia com passo manso e dócil.

Repentinamente vários ladrões saltaram de seus esconderijos sobre elas e na briga com seus condutores, feriram a Mula que levava o dinheiro, cujo valor agarraram sem titubear, não apanhando nenhuma parte dos grãos. A Mula que tinha ficado ferida lamentou o seu infortúnio. A outra, respondeu: "Eu estou satisfeita por ter me comportado como 'coisa pouca', porque não perdi nada, nem estou machucada".

Moral:

"Quanto mais exibição, maior o risco".

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

186º - A Mula

Equi donati dentes non inspiciuntur
A cavalo dado não se olha os dentes


Bem-vindos! A fábula de hoje demandará uma pequena lição de Zootecnia para compreendermos o significado de seu questionamento. O jumento ou o asno são primos dos cavalos e das éguas. De suas cruzas, ora cavalo com jumenta ou égua com jumento, são gerados outros primos, as mulas e os burros, ‘híbridos’ ou seja, sem capacidade de procriação. Daí o questionamento da ‘mula’ de nossa historieta: seria seu pai um fogoso alazão ou um pacato jumento? Ainda temos nesses animais híbridos, as denominações como: mulo, burra e burrico.

186ª - A Mula

Uma Mula, com querendo trabalhar e com energia de sobra, galopava de uma maneira muito extravagante, dizendo a si mesma: "Meu pai seguramente era um alazão puro raça e corredor e eu sou a própria imagem dele, em velocidade e espírito". No dia seguinte, tendo feito uma viagem longa e sentindo muito cansada, exclamou em um tom desconsolado: "Devo ter cometido um engano; afinal de contas, meu pai pode ter sido um simples Jumento".

Moral:

“Quem sai aos seus, não degenera”.




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

185ª - O Rato, a Rã e o Falcão

Dictum sapienti sat est
Ao bom entendedor meia palavra basta



Bom dia e bem-vindos! A fábula de hoje, certamente tem raízes nas contadas por Esopo. Nenhum diálogo. Apenas ações e as conseqüências delas advindas. Uma reflexão sobre a postura ética quanto ao não levar consigo, para o infortúnio, outro ser. Uma bela leitura...



185ª - O Rato, a Rã e o Falcão

Um Rato, por azar, tornou-se conhecido íntimo de uma Rã. A Rã certo dia, com a intenção de machucá-lo, saltou e agarrou firmemente seu pé. Assim unidos, a Rã conduziu o seu amigo ao lago no qual morava, até que, alcançando a margem, saltar repentinamente para dentro, arrastando o Rato consigo.

A Rã desfrutou incrivelmente a água e nadou coaxando alegremente, como se tivesse feito uma ação meritória. O Rato infeliz afogou-se logo com a água e o seu corpo morto flutuou próximo da superfície, ainda preso ao pé da Rã.

Um Falcão observando isto se lançou sobre o rato afogado, levando-o ao alto. A Rã, ainda agarrada à perna dele, também foi levada como uma prisioneira e comida pelo Falcão.

Moral:
"Injúria tramada, captura pela injúria".

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

184ª - O Rato e a Doninha - As Palavras

Fames optimum condimentum
Não há tempero tão bom como a fome



Bom dia amigos! A fábula de hoje foi traduzida na integralidade, mas exime-se de uma moral específica. Talvez para dar ao leitor a oportunidade de suas próprias conclusões. A minha é a de que nem sempre a fartura signifique a liberdade. Exercitem os neurônios. A prosa de hoje, toca - como quase sempre - no saber ler e interpretar,

ESSES OLHOS VIRAM...

...Os tempos onde, ao se ler algo como: ‘era uma pesada peça de madeira de boa qualidade, com castão redondo’, surgia de imediato na mente, uma bengala com pesado bordão em prata, cinzelado com finos arabescos. Tal como na obra de Conan Doyle, (O Cão dos Baskervilles – Sherlock Holmes).

Daí, vislumbrar ser o termo ‘bengala’, provindo do hindu, bang-alaya, ‘reino de banga ou vanga’ e designar um pequeno cajado de se conduzir na mão, feito da cana de Bengala, vai à distância de o ‘simples ler’ ao ‘absorver a leitura’.

Castão, outro verbete raro,- nem mais empregado -, designa um ornamento usado na parte superior de bengalas. Aldrava? Recordam-se? Uma peça móvel de metal, em forma de argola, - ou uma mão -, que se prendia às portas e servia para bater, chamando a atenção de quem se encontrava no interior. Esta lembrança nos remonta ao complexo visual que a leitura traz às mentes quando empregamos corretamente os vocábulos. Imaginem um poema com versos assim:

Pesadas nuvens, prenhes d’águas,

Com bengalas e castões a faiscar,

Tal um só bater em aldravas,

Chamam todos para se banhar.

Depois de termos consciência dos termos empregados: bengala, castão, aldrava, as imagens de raios e trovões, nuvens copiosas, chuvas torrenciais, afloram mais poéticas, não é mesmo?


184ª - O Rato e a Doninha

Um pequeno Rato faminto tinha feito o seu espaço, com alguma dificuldade, numa cesta de milho onde, achando este entretenimento tão bom, que se encheu a tal maneira que quando quis sair novamente, o buraco ficara muito pequeno para permitir isto. Sentado ao buraco, gemia sobre seu destino, quando uma Doninha atraída pelos seus guinchos, assim falou: "Pare lá, meu amigo e rápido procure ficar magro: você nunca sairá da cesta até estar na mesma condição de como quando você entrou".

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

183ª - O Rato Tolo e o Rato Presunçoso - Arroz Carreteiro

Id quod adest bonum consulendum
Aceite as coisas, conforme elas vêm

Bem-vindos! A fábula de hoje, tipicamente de Esopo, nos ensina como não confiar, jamais, nos presunçosos, pois deles é a marca do 'tudo sei e tudo faço'. Observar com atenção este procedimento e evitar seus aconselhamentos, demonstra sapiência.


Hoje, a prosa ESSES OLHOS VIRAM... mergulha na gastronomia, viajando aos pagos gaúchos, onde certa vez, experimentei um nobre 'arroz de carreteiro', à moda Tropeiro. Anotei a receita e já a fiz várias vezes, sempre arrancando elogios dos comensais. Para quem aprecia, um deleite. Claro que as quantidades dos ingredientes são proporcionais, facilitando as medições conforme o número de convidados. O charque pode ser substituido pela 'carne de sol' aí no nordeste brasileiro. Reparem que o arroz fica de molho frio por 4 horas e é escorrido antes ser colocado na panela. Bom proveito amigos e amigas...

INGREDIENTES PARA 10 PESSOAS:
2,5 kg de charque*** (carne seca) de primeira. com gordura;
0,5 kg de linguiça pura e maturada (opcional);
0,8 kg de arroz amarelão;
2,5 Cebolas grandes;
5 dentes de alho;
100 gr de toucinho ou bacon;
Sal e pimenta

MODO DE FAZER:
Desalgue o charque já cortado em pequenos cubos, sem fervê-lo, colocando-o numa vazilha com água, devendo ser trocada a cada duas horas; (+- 12 horas).

Coloque o arroz de molho em bastante água, sem lavá-lo, por 4 horas;

Corte a linguiça em rodelas, frite-as e reserve sem o excesso de gordura;
De preferência numa panela de ferro ou outra de parede grossa, derreta o toucinho (bacon), e doure o alho e a cebola. Após, coloque o charque, a linguiça já frita (opcional) e a pimenta a gosto, acrescentando +- 0,5 litro de água. Deixe cozinhar no mínimo por 30 minutos, colocando em seguida o arroz escorrido do molho. Verifique o sal e a água, completando-os se necessário.Tampe a panela e fogo baixo. Ocasionalmente mexa o cozido até ficar úmido e macio. Sirva em seguida.

DICAS:

O charque mais macerado acentua o paladar e torna o arroz de carreteiro mais original;

Coloque o tempero verde num recipiente para que cada um se sirva a gosto;

Não ferva o charque para tirar o sal, mantendo desta forma o gosto mais autentico;
Regule o sal somente ao final, pois com a fervura do charque o sal pode se acentuar;

Sirva o arroz de carreteiro assim que ficar pronto, ainda quente, e bom apetite;
O arroz deve corresponder a 1/3 do peso do charque;

Para cada quilo de charque, coloque uma cebola grande e dois dentes de alho;
O arroz leva de 10 a 20 minutos para cozinhar, dependendo do fogo;

Quanto mais tempo cozinhar o charque, mais macio fica;

Verifique a quantidade de fogo, pois dependendo da panela poderá queimar o arroz.



183ª - O Rato Tolo e o Rato Presunçoso

Um Rato morava num silo que se tornou também, depois de um tempo, o abrigo freqüente de um gato. O rato estava com grande medo e não sabia mais o que fazer. No seu dilema, lembrou-se de um rato que morava não longe e que havia dito em seu ouvido, uma centena de vezes, não ter qualquer medo de gato. Ele planejou visitar o rato tão corajoso e lhe pedir que afugentasse o gato.

Achando o rato na sua toca, contou-lhe sua história, pedindo sua ajuda. "Bah!" disse o rato, "Você deve ser corajoso como eu; trate todos seus assuntos e não preste atenção no gato. Eu logo te seguirei e o afugentarei".

Ele pensou, “Agora tenho que fazer algo para que minha presunção fique bem". Assim, ele convocou todos os ratos do bairro, resolvido a amedrontar o gato através do grande número de ratos. Mas quando todos eles foram ao silo, viram que o gato já tinha pegado o rato tolo e num único resmungo, voltaram todos às suas tocas.

Moral:

"Não confie num presunçoso!".

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

182ª - O Macaco e o Golfinho

Fida terra, infidum mare
Louva o mar, e fica na terra


Olá amigos!! A fábula de hoje dramatiza e bem, o castigo que cerca a mentira. Lição aos petizes e aos crescidos também. Boa leitura e até mais.


182ª - O Macaco e o Golfinho

Um Marinheiro, se aprontando para uma longa viagem, levou consigo um Macaco, como diversão enquanto a bordo. Assim que velejando ao largo da costa da Grécia, uma violenta tempestade surgiu no mar e o navio foi destruído, e o seu Macaco, além de toda a tripulação, foi obrigado a nadar para salvar suas as vidas. Um Golfinho viu o Macaco boiando nas ondas, supondo ser um homem (é dito que ele sempre ajuda), veio e se colocou debaixo dele, carregando-o nas suas costas, em segurança até perto da costa.

Quando o Golfinho chegou com seu fardo, em terras próximas de Atenas, perguntou para o Macaco se ele era um ateniense. Respondendo positivamente, disse ser membro de uma das famílias mais nobres daquela cidade. O Golfinho indagou então se ele conhecesse o Piraeus (o porto mais famoso de Atenas). O Macaco, supondo que fosse um homem afamado disse que sim, e sendo obrigado a corroborar tal mentira, acresceu que o conheceu muito bem e que era um amigo íntimo, que sem dúvida, iria ficar alegre em vê-lo.

O Golfinho, indignado com estas falsidades, submergiu o Macaco, afogando-o.

Moral:

"Quem começa a contar falsidades são obrigadas a fazê-las parecer verdades, contando outras e, cedo ou tarde, estarão em dificuldades."



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

181ª - O Macaco e o Gato - poesia Canto do Vento

Latet anguis in herba
A serpente se oculta na grama


Bom dia amigos! A fábula de hoje nos traz uma amostra sobre a apropriação indevida e como pode haver castigo. A moral da historieta resume bem o sentido desta impropriedade.

ESSES OLHOS VIRAM e aprovaram o poema de uma artista contemporânea de Portugal. Segue a mesma linha de JK Peixoto e vale a pena ler várias vêzes a poesia. Busque o sentido profundo dos temores de não mais ter temores...



Esta noite o vento ceifa os bosques e
uma raiva sacode a terra. Se a voz
do mar chamasse pelas velas, os estreitos
aguardariam um naufrágio. E se dissesses
o meu nome eu morreria de amor.
Devo, por isso, afastar-me de ti – não
por ter medo de morrer (que é de já não
o ter que tenho medo), mas porque a chuva
que devora as esquinas é a única canção
que se ouve esta noite sobre o teu silêncio.

Maria do Rosário Pedreira
O Canto do Vento nos Ciprestes
Lisboa, Gótica, 2001


181ª - O Macaco e o Gato.


Um Macaco e um gato viviam na mesma família e era difícil dizer quem era o maior ladrão dentre eles. Um dia, como estavam vagueando juntos, eles espiaram algumas castanhas que assavam nas brasas. “Venha," disse o macaco esperto, "Não iremos sair sem nosso jantar hoje. Suas garras são melhores que as minhas para arrancá-las das brasas ; você as tira quentes!". O Gato assim fez, sacando uma por uma e queimando muito as suas patas. Quando tinha roubado-as todas, percebeu que o macaco havia comido cada uma delas.

Moral:

"Um ladrão não pode ter confiança, nem mesmo de outro ladrão.”