Finis coronat opus
O fim coroa a obra
Bom dia prezados amigos! A fábula de hoje fala da usurpação¹ de caráter e como as ações revelam a verdadeira natureza. Lição de grande vulto.
Aproveitando o tempo de prosa, ESSES OLHOS VIRAM...
...os tempos das 'galochas'². Símbolo da idade adulta e 'status de gente bem', todos meninos tinham nelas, o sonho de consumo. Eram dias de cantilenas³ para ganhá-las. Vinham dobradas num pequeno pacote de papel celofane, cheias de talco (nem tanto para perfumar ou conservar, mas sim, facilitar a inserção dos sapatos). O dia em que ganhei minhas galochas, valeu pela felicidade, até hoje lembrada. Ficou por semanas na sapataria aguardando a chuva e o seu 'debut'.
Certo dia, na madrugada, raios e trovões anunciaram a esperada chuva. Caindo vigorosa antes que eu saísse de casa, coloquei a capa de feltro e capuz , as galochas nos pés (postas sem nenhuma instrução de uso) e os livros na pasta. Andando pelas sarjetas, como testando a estanqueidade, tudo era festa. Sapatos e meias secos e pés quentes, as galochas sairam-se garbosamente. A chuva seguiu toda manhã, cessando ao meio-dia, justo na hora de voltar para casa.
Feliz com a nova propriedade, eu caminhava espiando o brilho da borracha fina e reluzente. Chutando pedras, procurando poças para chapinhar, fiz as 25 quadras da volta, sem cansar. Ao chegar em casa, sentei-me na soleira da porta para tirá-las dos sapatos. O choque foi tão grande que emudeci. Não existiam mais as solas, apenas a parte superior das galochas, o cabedal. A fricção e o atrito com as lajes das calçadas secas, meus chutes e chapinhares no seco, tinham acabado com as sonhadas galochas. Nunca mais ousei pedir outra e voltei a ser apenas um guri - sem galochas -.
¹ apossar-se de ou tomar (algo) pela força ou sem direito.
² s.f. objeto de borracha que se calça por cima dos sapatos ou das botas, para protegê-los do contato com a água.
³ fig. queixa repetida e monótona; lamúria - fig. narrativa maçante ² a mesma c. fig. infrm. a mesma justificativa, o mesmo argumento.
120ª - Os Macacos Dançarinos
Um Príncipe tinha alguns Macacos treinados para dançar. Sendo naturalmente grandes imitadores das ações dos homens, eles mostravam serem, a maioria, hábeis alunos e quando usavam suas ricas roupas e máscaras, dançavam como quaisquer um da corte. O espetáculo era freqüentemente repetido, com grandes aplausos, até que numa ocasião, um cortesão, curvado pela idade, levou em seu bolso um punhado de nozes e as lançou no palco. Os Macacos, à vista das nozes, esqueceram suas danças e tornaram-se (como realmente eram...) Macacos, ao invés de atores. Tirando as suas máscaras e rasgando suas roupas, lutaram um com o outro pelas nozes.. O espetáculo da dança acabou-se assim.
Moral:
"Os que assumem um caráter, se trairão por suas ações.”
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