sábado, 14 de novembro de 2009

133ª - A Águia e a Gralha - 'A Lupa'

Fortior est qui se, quam qui fortissima vincit moenia
É mais forte quem se vence a si do que quem vence cidades

Boa tarde amigos e votos de um ótimo fim-de-semana. A fábula de hoje nos mostra o custo da pretensão. Saber o quanto podemos, ajudará a dimensionar a tarefa. Ótima lição de moral. E por falar em capacidade, ESSES OLHOS VIRAM...

...o tempo em que SE quiséssemos algo, havia que ser com esforço próprio. Nas idas para a escola, uma das rotas passava diante da única óptica da cidade. Em sua vitrine - propositalmente exposta em primeiro plano – uma lupa. Foi na época de uma febre filatélica amadora, destes embalos despertados por leituras de Tarzan e sobre a África, com suas feras descritas. Numa visita desavergonhada a um famoso filatelista - o único conhecido da região - havia ganho um par de selos africanos, com impalas e gnus nas imagens. Não sei por que, reparei numa enorme lupa que Seu Bertelli tinha na escrivaninha e dei a ela, o poder de transportar-me às savanas do continente negro pelo simples vasculhar dos selos. A lupa da vitrine – por meses ali estática -, virou meu objeto de desejo! Certo dia, entrei na loja e pedi o preço: ‘80 cruzeiros‘ foi a resposta da sorridente moça. O mundo caiu... Simplesmente inalcançável.

Foram milhares de conexões axônicas e idéias mirabolantes para obter tal quantia. Economizar? Como, se nada ganhávamos? Ficar sem as matinês? Nem falar. Sem algumas merendas especiais - tipo ‘sonhos’ ou ‘nariz entupido’- , vendidas nos recreios do colégio? Voar até a África pela lupa sim, mas ficar sem os petiscos vendidos por seu Genoíno... NÃO MESMO!

Botei-me a procurar serviços nas horas vagas das férias. Por aqueles tempos, um clube social havia sido criado no bairro -'Clube dos 100'-. Escolhido o local e eleito o ecônomo -justo um dos filhos daquele patriarcado alemão relatado na história da cerveja-, fiquei à espreita. O local escolhido, uma velha moradia da família dele, pedia reformas. Escalei-me e implorei durante dias para ajudar por módicos 80,00 cruzeiros. Por uns tempos não confirmavam meus préstimos. Faltando duas semanas para o fim das férias e poucos dias da inauguração do clube, fui chamado. Eu pulava de alegria. Fechado o contrato pela quantia combinada, deram-me a tarefa: pintar com verniz os lambris no contorno do salão. Com o detalhe, sem pincel, mas com bonecas de pano. Eram horas e horas com as mãos mergulhadas na terebintina. As tábuas de segunda categoria, simplesmente sugavam a resina, requerendo várias demãos. Em uma semana, todos os dias, me enterrei na obra. Trabalho acabado, dinheiro recebido, lupa no bolso e um par de mãos verdes. Por muitos dias fui alvo - na sala de aula - da admiração ou galhofa dos colegas, ora pela hercúlea tarefa e exibição da tão desejada lupa, ora com a luminescência das mãos. Tenho a lupa ainda comigo, até hoje e não passa de um plástico bem comum. Na transposição de valores para a atualidade, valeu R$ 15,34...

Se fui à Africa Negra com minha lupa? Muitas vezes e a outros continentes também... Até passar a febre filatélica.


133ª - A Águia e a Gralha

Uma Águia voava perto do seu ninho, situado num alto rochedo, segurando nas suas garra um cordeiro. Uma Gralha que observou a captura do cordeiro encheu-se de inveja e ficou determinada a imitar a força e o vôo da Águia. Ela voou pelas redondezas com um grande rufar de suas asas e resolveu alçar vôo com uma grande ovelha nas patas, mas suas garras ficaram emaranhadas na lã, não podendo libertar-se, apesar de todo esforço com suas asas, - o tanto quanto era capaz -.. O pastor vendo o que tinha acontecido, correu até lá e a pegou. Imediatamente cortou suas asas e anoitecendo, levou-a para casa, onde deu para suas crianças.

Moral:

"Não deveríamos permitir que a ambição, nos conduza além dos limites de nosso poder."

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