Ab amico reconciliato cave
Amigo reconciliado, inimigo dobrado
Bom dia amigos! A fábula de hoje trata mais um caso de traição à confiança e amizade. Este fato não tão raro, mostra-nos o conto, tem seu preço; ora cobrado pelo humilhado, ora definido pelo acaso da má-sorte (ou azar), mas sempre muito caro.
Na prosa de hoje, ESSES OLHOS VIRAM...
...uma porta de folha simples, um chão com ladrilhos quadriculados, puídos pelos anos de outras serventias e horríveis desenhos simétricos, Ficava entre o açougue e o armazém. Nenhuma janela. Uma cadeira levadiça e giratória no centro da salinha, algumas - comuns - junto à parede para a espera da vez. Espelho na parede, fiel retratista das gerações que ali desfilavam – tal o filme ‘O Baile’ de Ettore Scola -, lâmpada triste e só no teto, perfume no ar, escovas de cerdas duras e pentes de ossos com usos indefinidos, vários frascos com as misturas de álcool e essências, equipados com vaporizadores. Pura tortura ao guri ali chegado. Olhando para a vítima, duas ou três máquinas manuais de cortar cabelos. As navalhas “hiper-afiadas” guardadas nas gavetas por segurança. Só o dentista impunha mais terror que aquele cenário. A figura bonachona do italiano, baixinho, cabelos ondulados, bigodinho riscado, ares de Ciccio Ingrassia (na foto - parecidíssimos!). Com um cigarro eternamente aceso, nem sei como cortava e fumava simultaneamente. Era um mistério de malabarismo. O corte em si, dependia de dois movimentos sincronizados: o de abrir e fechar a máquina com os dedos da mão e o avanço dela própria, pelo couro cabeludo. O diabo era que a dança dos dedos estava ligada diretamente ao ritmo da conversa e esta – por sua vez -, nem queria saber se a máquina avançava ou não. O pinicar era tão doloroso que se comparava às estocadas das esporas e sempre queríamos fugir da obrigação. Existiam dois tipos de cortes: cadete e zero. Economicamente, o zero era indicado, pois daí, somente a cada seis meses visitávamos seu Gaetano. Ao final do suplício, uma rala espuma espalhada com o dedo, aliviava o passar da navalha, no ajuste final do corte. Rogávamos uma borrifada com perfume e ganhávamos apenas água esguichada, duas ou três espanadas com uma vassourinha macia para retirar as sobras dos ombros e... só.
Casado com uma francesa, dona Lucia – sábia desbocada, num francês ‘bas-fond’, com o ‘r’ mais encantador pronunciado na cidade -, seu Gaetano era o sorriso debochado e feliz de todos nós. Largou a barbearia e envolveu-se com uma fábrica de coroas mortuárias... Acho que de tanto passar a navalha pelos pescoços dos gringos... Gaetano e Lucia dois particulares amigos e queridos vizinhos, moram nas minhas recordações.
132ª - A Águia e a Raposa
Uma Águia e uma Raposa formaram uma íntima amizade e decidiram viver perto uma da outra. A Águia construiu o seu ninho numa árvore alta, enquanto a Raposa rastejando no solo fez ali seu ninho.
Não muito tempo depois, quando a Raposa estava procurando comida, a Águia estava desejando a provisão para suas jovens crias, lançou-se ao solo e agarrou um dos pequenos filhotes da raposa e alimentou sua ninhada. A Raposa ao seu retorno, descobriu o que tinha acontecido, mas era mais aflitiva a perda de sua jovem cria que sua inabilidade para a vingança.
Porém, uma justa retribuição veio em seguida sobre a Águia. Pairando perto de um altar no qual alguns aldeãos estavam sacrificando uma cabra, quando agarrou repentinamente um pedaço da carne e o levou ao seu ninho, onde, a cinza ainda ardente e uma brisa forte, acenderam-se a faísca, surgindo logo uma chama e os filhotes, como ainda não voavam, desamparados, foram assados no ninho, caindo todos mortos ao pé da árvore. A Raposa os engoliu à vista da Águia.
Moral:
"O tirano nunca está protegido daqueles a quem oprime."
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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