segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mestieri: Sarto / Ofício: Alfaiate 1

Rua Buarque de Macedo - Garibaldi - setembro 1952

Um resgate de memória, com incentivo da pesquisa, originará as linhas a seguir. É o retorno às origens da arte de um ofício extinto - a alfaiataria -, mas que marcou toda sociedade no fim do século XIX, início do século XX.

GARIBALDI RS BRASIL - Início da década de 50
OFÍCIO: Alfaiate
MESTIERE: Sarto
O menino sempre aguardava o avô paterno, encostado no portãozinho de entrada da casa. Ficava ali por minutos, ouvindo – seriamente – o tossir e escarrar ofegante do ancião lá dentro. Após alguma angústia, surgia-lhe a figura querida. Gordo, bonachão, sorridente e carinhoso, o velhote pegava na mão do piá e saíam felizes os dois para a caminhada do dia. Faziam todos os dias, roteiros variados, como um ‘tour’ para saudar os conhecidos.
Um dos roteiros preferido, seguia pela rua Buarque de Macedo. Via importante que procedia de outras cidades e ia para outras tantas. Era a veia jugular da região. No perímetro urbano, estavam o cemitério - campo do descanso das lides terrenas -, a oficina e chapeação do Dante Montemaggiore, a família Bonotto - tios e primos -, o Colégio das Irmãs de São José, a Associação Comercial, o Açougue, a pensão da dna. Itália, o posto de combustíveis, o Hotel Pieta, a loja de tecidos do seu Debiasi, o baratilho do Mottin, os Nehme e os Koff, a fundição de sinos dos Bellini - famosa no país todo -, a farmácia do D’Arrigo, outro açougue, a sapataria, seu Rossoni, a loja dos De Conto, seu Pizzatto, a farmácia do seu Urbano Jung, o médico da cidade - o dr. D'Arrigo -o bar-café Luna Park da dona Marieta Comunello – vó materna do piá deste relato, a barbearia do Zaro, a padaria do Pezzini, o Banco da Província, o armazém do Marangon, o seu Cattani, a casa dos Ponzoni, a casa da professora de piano, o cinema Trianon, o hotel dos Mombach, a bica de água - sempre corrente e sob a sombra dos cinamomos -, os chorões e o lajeado do arroio Marrecão onde senhoras lavavam roupas e a curva da via indo para a Alfândega..Este roteiro acabava ali. Um bom descanso e o retorno.
O guri exibia orgulhoso o avô e este mais orgulhoso ainda, exibia o neto. Uma parceria com cumplicidade.
to be continued

Um comentário:

dna Mô disse...

Salve grande Vade!
Que sorte a desse guri!
Já não se fazem avôs como esses!
Tais parcerias já não existem mais - ou, então, mudaram totalmente de feições...

Ainda bem que a boa memoria renova os afetos...
Só conseguimos ser, ter e dar o que vimos, vivemos e recebemos...
Beijos a todos!