sábado, 27 de novembro de 2010

Mestieri: sarto - 6

–‘Uma bela camisa xadrez para o cavalheiro!’, disse o idoso.
Como mágica surgiu no balcão um rolo com tecido grosso, uma flanela, de estampa quadriculada gritante, vistosa ao extremo e que certamente só uma criança usaria.
-‘Um pensador inglês afirmava que o traje influencia
o pensamento da sociedade. ’, emendou o alfaiate, com ar orgulhoso.
Súbito, aromas de uma cozinha próxima se destacam na confusão.
-'Almôndegas e pimentão! ’, exclama o pequeno.
-‘O que é almôndega, o que é pimentão?' , retruca o velho.
-‘É a tua polpetta, é o teu peperone!!', solta o meninote. Todos caem na gargalhada.
Típico dos homens, o aceite sobre a oferta do pano foi imediato, tanto pelo avô como pelo neto. Não havia lugar para outras amostras.
Tomadas as medidas, marcado o dia da prova, jamais o menino sentiria emoção igual àquela tarde.
Dias após, com a camisa pronta, colarinho e punhos armados, mangas compridas e botões grossos, aquele xadrez seria um troféu único e exclusivo a exibir.
Ao se despedir do vô - pouco tempo depois -. beijando-lhe as mãos geladas, já no ataúde, todos estes fatos voltaram à sua nemória.


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