terça-feira, 30 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 8
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 7
sábado, 27 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 6
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 5
Nos caminhos escolhidos, passavam ora pelas costureiras: a dona Geni Santarosa, a dona Marietina; ora pelos alfaiates: seu Natal Prancutti, o Toniazzi, o João Balbinot, o seu Luiz Zamboni
Num destes périplos pela cidade, certo dia o menino foi levado para dentro de uma alfaiataria. Ali, numa pequena peça de poucos metros quadrados, parcamente iluminada, empilhavam-se: o balcão rústico, as prateleiras com vários rolos de tecidos escuros e riscados, o ferro de passar fumegante num canto do chão, aquecido pelo carvão em brasa, réguas de madeira - amareladas e inelegíveis pelo uso -, fitas métricas puídas, várias tesouras enormes, pedras para riscar e marcar o pano, almofadas cravejadas de alfinetes, a máquina de costura PFAFF a pedal, dois manequins sem cabeças ou braços portando casacos semi-acabados e o alfaiate.
Sorridente, quase completamente calvo, saiu detrás do balcão e veio cumprimentar ambos, avô e neto.
Conhecidos na França como ‘Tailleur’, na Itália por ‘Sarto’, na Espanha por ‘Sastre’, (do latim Sartor, Sarcire, coser), em Portugal revelou-se sua ligação ao mundo árabe, ao adotar ao ofício um nome derivado da palavra árabe Al-Kaiat ou Al--Kaiiat, do verbo Khata que significa coser. Independente da designação, os alfaiates desde a antiguidade clássica tinham a exclusividade do corte e costura das diversas peças de roupa, tanto masculinas, como femininas. Privilégio que mantiveram até o século XVII.
Este século costuma ser apresentado como a época de ouro da alfaiataria. Muitos dos símbolos do poder passavam então por um vestuário de aparato, e este dependia em grande medida da arte e da técnica de cada mestre alfaiate.
Sob o impulso da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, caminhou-se inexoravelmente para a liberdade no exercício do trabalho. Apenas em 1817, os alfaiates conseguem que lhes seja permitido adquirirem os tecidos para o exercício do seu ofício. Passados alguns anos , em 1853, é constituída na cidade do Porto - Portugal, a Associação dos Alfaiates desta cidade e a primeira a abandonar os princípios corporativos que remontavam à Idade Média. Em Setembro deste ano, é criada em Lisboa, a Associação dos Alfaiates Lisbonenses. Estavam encontradas as novas organizações profissionais juntando mestres e aprendizes, proprietários e trabalhadores. A Europa ditava as normas do ofício e por consequência, as imigrações difundiriam a transformação.
To be continued
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 4
Nossa saudação para nossa mais nova seguidora Elenita. Seja bemvinda.
Prosseguimos!
Em 1896 chegavam da França os capuchinhos para fundar a escola seráfica, formadora dos primeiros frades brasileiros.
1898 - Em 23 de dezembro, as Irmãs da Congregação São José de Mouthier - França sedimentam a presença educacional e cultural do município, com a sua primeira missão em solo brasileiro.
1900 – 31 de outubro –, Garibaldi toma o título de município. O mais antigo pólo da colonização italiana da província. Sua história tem o contorno do heroísmo, tal o guerreiro dos dois mundos mitificou entre nós – Giuseppe Garibaldi.
1904 - Os Irmãos Maristas fundam a Escola Santo Antonio.
A cidade de Garibaldi estava sendo moldada, atraindo incontáveis jovens estudantes de outras paragens, engrossondo as fileiras intelectuais da região.
1918 - A estação férrea foi inaugurada. No ano seguinte o ramal foi estendido até Bento Gonçalves. Em 1920, passou para o Governo Estadual, formando-se a Viação Férrea do Rio Grande do Sul. Na cidade foram construídas as oficinas gerais de toda a província, para manutenção e conserto das locomotivas e vagões.
O neto absorve as palavras do avô como lição, apesar de não ter ainda cinco anos.
To be continued
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 3
Outro dos percursos, enviesando a rota costumeira, seguia até o Correio em busca de alguma postagem. Dali, cruzando a ponte sobre o límpido Marrecão, bordado pelos chorões, rumo até o armazém do seu Mânica, o estabelecimento do seu Gallina, a ferragem Cisilotto, seu Antoniazzi e na volta, um pulo na ferraria do primo Tercílio.
Não raro, em dia de pouco sol, uma ida até as cantinas, abraçar os conhecidos: Cooperativa Garibaldi – um portento -, Carraro e Brosina, George Aubert ou Peterlongo. Como eram muito distantes, fazia-se uma por vez. Sempre havia o tempo para cultivar a amizade.
Pelo caminho, nas manhãs, uma das distrações era adivinhar o perfume culinário que assomava os ares, numa disputa sobre quem mais acertava:
- Osmarim!
–‘O que é osmarim?’
-‘É o teu alecrim!’ – disse o vô. Risos
Toucinho, alho porró, salsão, cebola e alho refogados com tomates, orégano, sálvia, mangerona, mangericão, cominho, coentro, manteiga fritando, batatas e carne assadas, rúcula ou agrião recém colhidos, pão saindo do forno de barro. As sopas e canjas. Um festival aromático que antecedia o almoço. Nas tardes, eram os odores doces das frutas em passas e açucaradas, descansando em bandejas de vime nas janelas, dos bolos e caramelados. O café moído na hora e coado em água fervente, exalava seu perfume para longe.
O trajeto do dia seguinte, iria até a Ermida. Visitariam o seu José Zoppas, iriam tomar a benção na Igreja Matriz, dar um abraço no Mereb e passear na praça central.
To be continued
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Mestieri: sarto - 2
O avô contava sempre a história da cidade. O neto ouvia atento.
1870 – Província do Rio Grande do Sul – Ato do seu presidente – João Sertório – cria pólos para povoamento e colonização do planalto serrano no estado. As sedes de assentamentos e divisões são criadas: Conde D’Eu e Dona Isabel.
1873 – Segundo alguns registros de historiadores, foi o ano da chegada dos primeiros imigrantes, provindos do Tirol. Eram setecentas pessoas, com a índole agrícola e pastoril... Algumas famílias suíças – cerca de quarenta -, já estavam aportadas na região. Os italianos acompanhados por um sacerdote, padre Bartholomeu Tiecher, deram início a civilização. A primeira família tomou assento: Cirillo Zamboni, esposa e filhos.
Em poucos anos, os frutos da terra: uva, vinho, milho e da criação: aves, suínos e gado leiteiro, catalizados pelo cooperativismo, impulsionam o pólo Conde D'Eu para um progresso não imaginado. As cartas entre os dois países – Brasil e Itália – indo e indo ao balanço dos vapores, pipocavam com anseios de mais e mais conterrâneos virem à nova pátria.
Da ocupação colonial, a sede do município já clamava pelas profissões urbanas: ferreiros, marceneiros, carpinteiros, mascates, tanoeiros, pedreiros, sapateiros, barbeiros, padeiros, açougueiros, serralheiros, alfaiates e outras tantas. Com a moeda girando velozmente, encadeia-se um intransferível eldorado.
To be continued
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Mestieri: Sarto / Ofício: Alfaiate 1
Rua Buarque de Macedo - Garibaldi - setembro 1952 |
Um resgate de memória, com incentivo da pesquisa, originará as linhas a seguir. É o retorno às origens da arte de um ofício extinto - a alfaiataria -, mas que marcou toda sociedade no fim do século XIX, início do século XX.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Uma nova pátria ! - 6
Somente algo extraordinário nos faria trocar de solo-mãe. Como deixar para trás quem nos recebeu ao primeiro sopro de vida? Seria o mesmo que renegar o seio que alimenta. Mereceria um estudo aprofundado... Abraços a todos.
Lorenzo e Madalena Ponzoni |
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Uma nova pátria ! - 5
03 de setembro de 1940 – Como encanto Gigio viu-se diante da bela casa onde residiam seus sobrinhos. Construída em 1927 pelos filhos homens de Carlo, primava pelos ricos detalhes ornamentais e por suas belas sacadas, além dos vidros coloridos.
Gigio pensou no orgulho de Carlo e Maria Santa se ainda vivessem. Nos fundos havia a marcenaria da família, especializada em móveis e esquadrias. Pela distância do porão em pedra até o sótão, media-se a imponente estrutura do imóvel.
Um estranho bem-estar tomava conta de seu velho corpo de 73 anos. As dores constantes haviam sumido. Os perfumes no ar anteviam a primavera. Gigio estava liberto..
Um alvoroço repentino sacudiu a paz. Crianças, provavelmente filhos de Santo e Tereza, Gumercindo e Berenice, Celeste e Rosa, Marcos Lourenço e Anna, - pois as filhas moças haviam se mudado para outra cidade-. corriam desabaladamente. Gritos de surpresa subiam aos ares. Adultos clamavam para terem cuidados.
Ninguém pareceu notá-lo.
A sombra de um enorme elefante passou na calçada. Fugido de um circo, havia subido a escada de pedra que ladeava a casa, seguindo rumo às hortaliças da vizinhança e para roubar pães quentinhos, direto no forno de barro da padaria próxima dali. O domador desesperado gritava: ‘Ca’mon Lelé! Ca’mon Lelé!, sem ser ouvido pelo paquiderme.
O rebuliço da turba sufocava a normalidade. Gigio reparou então, num casal de jovens, acompanhado por uma bela moça. Vinham todos em sua direção, rindo e conversando. Era Carlo, com Maria Santa e Elisa. Abraçaram-se e de mãos dadas começaram a levitar. Foi quando olhou seus reflexos nos vidros coloridos da casa. Estavam todos jovens, belos e sorridentes. Começariam outra jornada.
To be continued
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Uma nova pátria ! - 4
Seguimos com a saga de nossos imigrantes. Ao final identificarei cada personagem.
Meados de 1915. Os filhos homens e as filhas moças eram a alegria de Carlo. Naquele dia sua memória chamou Maria Santa. Com saudades recordou os ‘carciofi’ (pronuncia-se cartjiofi - alcachofras) que apenas ela sabia deixar tenras, tal as ‘mamoles’ (alcachofras de folhas sem espinhos) da Itália. Não via a hora da primavera chegar para saborear uma vez mais os ‘carciofi’. Achava engraçado como se modificara a pronúncia deste quitute entre os próprios italianos. Ouvira até mesmo ‘arquichoqui’. O dialeto já dominava o gramatical italiano. Esta seria a nova pátria de todos.
Os filhos maiores souberam apoiá-lo na criação dos menores. Os homens se dedicavam ao ofício que denodadamente lhes transmitia. As moças lidavam com perfeição as tarefas domésticas.
Acordara cedo naquele dia, com o perfume do leite fresco a esquentar, o pão caseiro, a nata, o salame, o queijo e o café coado, todos a perfumarem a cozinha.
16 de junho de 1915 – Gigio estava pasmo. Diante do esquife e preparativos para o funeral de Carlo, arrumava suas idéias. Após a queda na escada interna da casa, Carlo parecia estar bem. Com apenas 51 anos, logo estaria na marcenaria com os filhos, curado e ativo. Como pudera tal fratura encaminhar-se para tal desfecho? A conclusão de que nada somos e uma queda mal curada pode matar fê-lo voltar os olhos para o alto. Um pensamento foi direto para a Itália, chamando os velhos pais para ajudá-lo a suportar a dor da perda do cunhado e amigo. Do trio apenas restava ele.
Sentiu um abraço. Era Thereza, a filha mais velha de Carlo que lhe disse: -“Tio, não se preocupe. Cuidaremos dos menores e tudo dará certo!”
To be continued.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Uma nova pátria ! - 3
Em 31 de outubro de 1900, o governo do estado do Rio Grande do Sul eleva a colônia Conde D'Eu à condição de município, que passa a chamar-se de Garibaldi.
12/04/1907 – Carlo estático diante de sua silenciosa mulher, esposa e mãe, ainda ouvia - ressoando em sua mente -, os gritos de ‘Aiuto!’. Buscava forças no passado para fugir do desespero do presente. Alguns anos antes, dezenove, - ele e Maria Santa juntos com Gigio, subiam a serra rumo a então Colônia Conde D’Eu.
Recordava mostrar para Maria Santa a imponência de árvores desconhecidas. Com troncos enormes e galhadas assustadoras, lembravam o pinheiro norueguês. Ali estava o futuro para seu ofício. Maria Santa sorria enigmática. Seu ventre já trazia o primeiro fruto dos nove que iria parir.
Lembrava também do bordo, magnífica árvore, ainda no aprendizado à marcenaria. As ferramentas e equipamentos chacoalhavam tinindo nos lombos das mulas. Estava feliz.
O pesado odor das velas queimando e dos copos-de-leite trouxeram-no de volta ao velório, Carlo nem percebia a ausência do feto feminino que causara a tragédia. Seu olhar vagueava entre a querida imóvel e os filhos. Sua esperança estava em Gigio, agora com Elisa. Certamente iriam ajudá-lo a criar a prole.
Therezinha, Gomercindo, Santo, Adilce Lucia Albina (Dirce), Celeste, Elide, Marcos Lourenço e Ana estavam estupefatos. A mãe não acordava mais..
To be continued
domingo, 14 de novembro de 2010
Uma nova pátria ! - 2
Carlo, sua esposa e o cunhado Gigio partiriam logo pela manhã. Todos estavam ansiosos. Entre seus pertences, o precioso torno movido a pedal e a maleta de madeira lavrada com os instrumentos essenciais para a prática da profissão. Esta fora absorvida junto à corporação de ofícios marceneiros. Os mestres-artesãos faziam da madeira em tábuas, móveis e objetos usados em decoração de interiores, no perfeito domínio das técnicas de entalhe e embutidos. Carlo ainda recordava um velho mestre lhe contando as vicissitudes da pátria-mãe, as lutas e revoluções. Sintetizando toda a informação, ficara claro que o Congresso de Viena havido em 1815, terminara com o regime napoleônico na Itália, dando o controle da península para a Áustria, restabelecendo antigos regimes feudais. A depressão social e econômica, além de uma série de revoluções marcou o movimento chamado de Risorgimento (‘re-despertar '), um clamor para a independência italiana. Em 1859 e 1860, auxiliado pela França, o reino Piemonte-Sardenha conduziu a luta contra a Áustria. Giuseppe Garibaldi e seus 'camisas-vermelhas' conquistaram a Sicília e Nápoles e por 1870 a Itália era uma monarquia, unida sob Victor Emmanuel de Piemonte.
Súbito, um pensamento ocorreu a Carlo: - 'E se não houvesse madeira adequada à marcenaria no Brasil?'.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Uma nova pátria ! - 1
Carlo e Maria Santa |
Ao perscrutar dados familiares de imigrantes italianos, vi-me diante de um pedaço da história. Tentarei passar a todos, nas próximas linhas, a sensação que me assomou nesta aventura.
Aldeia Torre de Picenardi, província de Cremona – Itália, 1888. Lorenzo sentado diante do fogo que crepitava, estava pensativo, olhando para o nada. Madalena, sua dedicada esposa, aprontava uma sopa para o jantar, com passos silenciosos. A pergunta surgiu repentinamente: -‘O que pensas?’.
Lorenzo pigarreou e disse: -‘Carlo, nosso filho, sua mulher Maria Santa e o irmão dela, o Luiz, querem emigrar para o Brasil. Já falei com os pais dela. O Marcos e a Lúcia estão conformados. Parece ser a única solução contra a miséria e pobreza que assolam o país’. Sempre temíveis, os constantes conflitos militares fronteiriços, privilegiavam as convocações dos filhos de agricultores preferenciaimente. A Tripolitânia e sua anexação cobraria vidas por muito tempo ainda e a Líbia efervescia para mais um conflito generalizado.
Madalena persignou-se, como se as cruzes traçadas na testa, na boca e no peito removessem o laico do pensamento, do dito e do coração: - ‘Com nossa benção, eles devem tomar a rédea do destino!’.
Como milhares de italianos, Carlo, Maria Santa – então com 25 anos - e Luiz, - com 21 -, arregimentaram suas posses e seguiram para Gênova. Os navios saiam dali rumo à nova pátria. Para trás ficaram os pais, outros irmãos, amigos e um pedaço da vida,
To be coninued