sábado, 12 de dezembro de 2009

156ª - O Pastor e as Cabras - 'Meus 8 anos' C.Abreu

Omne nimium nocet
Tudo que é demais prejudica

Bom sábado a todos, apesar das chuvas intensas. A fábula de hoje, repica o diapasão do 'tudo querer'. O ditado 'quem tudo quer, tudo perde' é uma constante no mundo esopiano. Bela leitura, com uma nova ambientação.

A prosa de hoje, conclue o périplo pelo mundo da poesia anestesiante e amansadora de nossa infância. ESSES OLHOS VIRAM...

...surgir do nada, versos altamente questionadores. Acabara-se o tempo do choque tertuliano ou dos mistérios marinhos e eólicos. Quando a situação ameaçava eclodir em batalha campal, surgia uma voz trágica a declamar as vicissitudes do Casemiro e seus dilemas. Todos calávamo-nos e mergulhávamo-nos no vórtice de um redemoinho psicológico (ainda não o sabíamos ser algo psicológico, mas que abria o dilema da vida adulta, abria). O turbilhão de idéias estancava o ambiente propenso a um conflito maior.

O poema não chegava à metade e vários ‘exércitos’ já haviam saído de cena. E assim íamos levando a vida...


MEUS OITO ANOS


Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!


Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias

Do despontar da existência!

— Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;


O mar é - lago sereno,

O céu - um manto azulado,

O mundo - um sonho dourado,

A vida - um hino d'amor!


Que aurora, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!


O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!


Oh! Dias da minha infância!

Oh! Meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!


Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!


Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

- Pés descalços, braços nus -


Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;


Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo.

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!


Oh! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!


- Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras

A sombra das bananeiras

Debaixo dos laranjais!


Casemiro de Abreu – publicado em 1859, no único livro do autor 'As Primaveras'.


156ª - O Pastor e as Cabras

ERA um dia tempestuoso e a neve estava caindo rapidamente, quando o rebanho de cabras conduzido pelo Pastor, todas já brancas com a neve, chegou a uma caverna antes deserta, para servir de abrigo. Ali encontrou outro rebanho de cabras selvagens, mais numeroso e maior que o seu próprio que já havia tomado posse do lugar. Assim, pensando arrebanhar todas elas, deixou as suas Cabras aos próprios cuidados e jogou a comida que havia trazido para elas, às Cabras Selvagens, indo embora para voltar assim que o tempo melhorasse. Mas quando o tempo clareou, ele voltou e encontrou as próprias Cabras mortas pela fome, enquanto as Cabras Selvagens tinham fugido para as colinas e bosques. Assim o Pastor foi motivo de chacota dos próprios vizinhos, pois além de não ter pego as Cabras Selvagens, perdeu as suas próprias.

Moral:

"Aquele que negligencia os seus velhos amigos por causa dos novos é certamente agraciado com a perda de ambos”.

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