É um minúsculo planeta azul. Gira em torno de uma minúscula estrela amarela, igual a bilhões delas em sua galáxia e esta, igual a bilhões de outras no firmamento.
Neste planeta há uma espécie de raça, a mais paradoxal existente. A cada circunscrição do planeta na estrela amarela, ocorrente a cada 365 rotações sobre si mesmo, alguns desta raça resolvem comemorar a data de um passado nascimento. Louvado na pobreza, no despojo e na singeleza, o recém nascido é sempre lembrado com nababescos banquetes e faustosos presentes.
Aproveitando-se a viagem de Magos do Oriente, chamados Belquior, Baltazar e Gaspar, aplicaram um, -cada vez mais agressivo- programa de marketing. De um pote com ‘incenso’, de um pedaço de ‘mirra’ e de uma ‘pepita de ouro’, atualmente movimenta-se o comércio do planeta inteiro nesta data. E o quarto poder, - a imprensa, que vive disto-, catalisador das massas, está ali para gravar o último comprador, do último minuto, da última hora útil, do último dia e da última loja. Todos saem às ruas para ganhar estes dez segundos de fama, torcendo por ser o entrevistado.
Nesta época, quem lucrou exageradamente no período passado, sai doando alguns trocados aos miseráveis e sempre com a mídia seguindo-o. Os que mataram, assassinaram e transgrediram, sorriem e pedem perdão, pois nada como começar tudo de novo com o caderno passado a limpo.
Os vendilhões do templo, ornamentados como xamãs, tal como quando vão lavar alguns pés limpos e polidos, entregam-se a rituais noturnos achando que enganam o ‘dolce far niente’.
Os ares se enchem com votos impossíveis: paz onde há conflitos, saúde onde há doença mórbida e riquezas onde há a misérias, Paradoxal!
O melhor seria crer que cada um possa ter o que mais lhe falta, por méritos próprios. Seria mais saborosa a conquista. Cair do céu, por um simples desejo, nem cometa ou asteróide. Este é meu desejo a todos: muita força e coragem!