Gennaro chegara cedo ao prédio onde seu Pietro tinha a alfaiataria. Naquela manhã fria de maio, sábado que antecedia o primeiro domingo do mês, o 'nada' por fazer no trabalho, só restava aguardar um cliente qualquer. O velho mestre o aguardava sentado num canto do aposento. Mostrava-se cansado. Raro vê-lo assim. Somente um novo trabalho o animaria. Então Pietro chamou-o dizendo:
-‘Sente-se aqui perto Gennaro!’
O abatimento era palpável. O vetusto artesão tinha o olhar longe. Estava voltado para a sua querida península, para suas raízes deixadas longe há tanto tempo. Como se numa aula, ditou para o aprendiz:
-‘Nostro mestieri, sarto.... ’
Engasgou-se, tossiu e reiniciou o monólogo, cuidando não machucar as palavras desta nova língua, tão estranha e tão diferente, impossível de gesticular com as mãos, como na sua adorada língua materna.
-‘ Nosso ofício, alfaiate está sem união. Lá na Itália, antes de vir, tínhamos em Toscana a chamada Arte, em Roma era o Colégio, na Lombardia o Consulado, no Piemonte a Universidade, na Emília-Romana a Companhia, Grêmio na Sardenha, Confraria ou Irmandade no Vêneto, as Mestranças na Sicília. A educação ou o ato de transmitir o conhecimento trocava de nome, mas não de essência... ’ As forças faltaram-lhe. Sorrindo, fixou o olhar no infinito, murmurando: -'miracolo San Gennaro!'. Frei Bruno de Guillonay que o perdoasse, não estaria presente na quermesse para arrecadar fundos visando a reconstrução da igreja matriz. Partiu!
Chocado, Gennaro compreendeu o quanto devia a este velho mestre e como ele amava suas origens e o quanto lhe foi prazeroso ensinar.
To be continued
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