sábado, 23 de julho de 2011

Frog! 4/4


Pulei para trás tamanho o choque. Foi quando o vi. Devia pesar um quilo. Preto com manchas de um amarelo fluorescente. Olhos saltados, enormes. Pernas robustas. Podia não ser um espírito maligno, mas era o maior sapo e dos mais feios que eu já vira. Com um sonoro ‘FROG!’ pulou da soleira da porta para se esconder debaixo do balcão da sala.

Minha tarefa agora multiplicara. Despachar as beatas. Retomar a confecção do pão e tirar o sapo do interior da casa.

Pedi sinceras desculpas para s crentes dizendo do pão e do sapo. Saíram quase correndo. Enquanto ultimava a massa, cuidava com o sonoro ‘FROG’ a fera e suas tentativas para conhecer a casa.

Quando o carrilhão iniciou a seqüência dos quatros quartos de hora completada e o número de badaladas correspondente à hora, meu amigo postou-se a olhá-lo. Peguei uma vassoura, abri a porta. Como sabendo o seu destino, como se piscando um olho para mim, ele saiu. Deve ter satisfeita sua vontade de conhecer o carrilhão.

Foi o melhor pão já feito apesar de tantas coincidências !

Até a próxima...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Frog! 3/4

Com meus botões pensei: ‘O que estas igrejas não inventam. Agora criaram o espírito maligno que adentra nas casas dos incautos!’

Repeti o pedido de como poderia ajudá-las. A senhoraa mais madura disse: ‘Viemos trazer um convite. O senhor não quer conhecer seus antepassados?’

Pensei no pão e sua parada fatídica. Teria que declinar o convite sob pena de perder a mistura já processada. Foi quando levei um susto! A mais jovem dasa senhoras gritou histericamente: ‘Ele entrou!’

To be continued

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Frog! 2/4

Estático, paralisado, fiquei aguardando para decidir qual dos sons era o mais premente. O telefone ganhou a prioridade. Atendi-o. Foi fácil pedir para que aguardassem uma chamada em retorno. Fui â porta, pois a campainha cessara e não costumo deixar de atender. A mistura da massa do pão que aguardasse!

Com olhares aterrorizados, duas jovens senhoras, Bíblias nas mãos, me aguardavam. Educadamente, pedi se poderia ajudar, mesmo sabendo onde iria terminar nossos colóquios.

A mais jovem, com voz trêmula murmurou: ‘Cuidado meu senhor! Ele vai entrar!!’ Fiquei pasmo e apalermado. ‘Quem?’ balbuciei.

To be continued

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Frog! 1/4

Às vezes chego a pensar nem pertencer a esta dimensão cósmica. Quem acompanha meus escritos saberá do que falo, ou seja, as coincidências permeiam e muito minha vida.

Certa manhã, resolvi fazer um pão integral, com receita própria e bem nutrido de grãos e fibras. Dá trabalho e requer acompanhamento sob ‘judice’.

Mergulhado entre potes, farinhas, balança, máquina assadeira e afins, toca o telefone e simultaneamente a campainha da porta. O relógio carrilhão, diante de tamanha sonoridade resolveu bater as horas junto.. Era uma orquestração ‘suis generis’.

To be continued

sábado, 16 de julho de 2011

O benzedor! 2/2


‘Tu és filha da Anita de Garibaldi, não és?!’ Minha esposa não escondia o espanto diante do nome da mãe. O benzedor desandou num choro convulsivo e comovente. As lágrimas escorriam-lhe dos olhos. Erguendo as mãos como se orasse, exclamou: ‘Deus não me deixaria morrer sem ver Anita mais uma vez!’. A velhinha, sem jeito, tratou de acalmá-lo com palavras humoradas. E o ancião completou: ‘Foi o único amor verdadeiro que tive!’, e olhando minha mulher disse: ‘És o retrato de tua mãe!’

Mais calmo nos contou a história. Ainda moço, por volta de 1925, enamorado por Anita, fora ganhar a vida,abrindo estradas no estado de Santa Catarina. Enviava seguido correspondência para Anita – envelopes dentro das cartas -, e soube mais tarde quando voltou que os primos solapavam-nas, deixando Anita sem notícias dele. Havia se casado e ido morar em outra cidade.

Esbravejou irado contra os primos.

Em Santa Catarina aprendera a benzer com um velho índio bugre. Apanhando uma semente brilhosa, traçou na minha espinha uma série de hieróglifos, entoando orações. Presenteou-me com a semente e beijando a palma da mão de minha mulher disse apenas: ‘Obrigado!’

Saímos dali, meu mal cessou, cancelei a cirurgia e nestes 30 anos, nunca mais fui molestado pelo incômodo benzido.Nosso benzedor faleceu pouco depois.

Esta força que une tudo a todos gravitacionalmente, é um mistério. O fato está contado. Cada um tire suas conclusões.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O benzedor! 1/2

ESSES OLHOS VIRAM... O ancião debruçar-se sobre o prato de sopa a sorvê-la com lentas colheradas ritmadas. Sua esposa fazia o mesmo do outro lado da mesa. Não trocaram um olhar ou uma palavra. Minutos antes, ele havia nos recebido à porta e nos levara – eu e minha mulher – até a sala e pedira-nos que esperássemos uns instantes. De onde estávamos, podíamos vê-los sem sermos vistos. Acabada a sopa, tomou meio copo de um vinho tinto e dirigiu-se a nós.

Pela manhã eu havia ido ao médico para uma consulta e saíra do consultório com cirurgia marcada já para o fim da tarde. Era quase meio-dia. Não sou muito chegado à alopatia e do nada, me veio à lembrança o benzedor afamado na cidade. Apesar da hora resolvemos ir vê-lo.


To be continued...

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os piões

Imagine-se no solo, do tamanho de uma formiga, dentro de um círculo traçado com uma ponta metálica. Junto contigo, uma dezena de piões, com vários tamanhos e cores, jogados ali como apostas por um grupo de piás.

Súbito, vários silvos ensurdecedores. Parece ser uma quadrilha de aviões à jato. Mas não, são os piões assaltantes, girando em rotações inimagináveis. Eles surgem de todos lados, uivando selvagemente ao saírem de uma fieira – espécie de corda fina – lambuzada de breu para melhor prendê-la à sua madeira.

As pancadas das pontas aguçadas, fazem estragos irrecuperáveis. Os piões ali atirados e indefesos são alvos fáceis. Um dos objetivos é tirá-los do círculo,dom o pião-assaltante, trocando de dono, já que quem arremessou-o fora, toma sua posse. Os piões mais bonitos e coloridos, se tornam objetos da sanha destes mísseis, saindo da batalha totalmente arruinados.

As fieiras, possuem comprimento exato para enrolar o pião e compor com o braço do atirador, o aríete até próximo do solo. Quanto mais perto do chão a fieira soltar o pião, mais preciso será o tiro.

Ainda tens o tamanho de uma formiga? Então, uma ponta metálica girando milhares de rotações por minuto, acaba de atingir-te...

Até mais...

terça-feira, 12 de julho de 2011

Quando uma foto fala!


Meados da década de 40. Segunda Grande Guerra em terras européias, africanas, asiáticas e americanas. Todos os povos - direta ou indiretamente - são envolvidos pelo conflito.

As alianças vão sendo costuradas, ora por ideologias, ora por afinidades raciais ou então, pelo embate entre nazismo, fascismo e imperialismo contra capitalismo,e comunismo, então aliados.

No interior do nosso estado, colonizado por levas de alemães, italianos, portuguêses, judeus e japoneses, a salada de fruta estava feita. Confiscos, proibições, sanção aos heróis ibéricos que denominavam logradouros públicos, enfim uma barafunda.

Na calada da noite, aparelhos de rádios clandestinos sintonizavam as ondas curtas de emissoras do além-mar e as notícias alegravam ou entristeciam os ouvintes.

Porque do assunto?

Por que uma foto revela um momento festivo entre os italianos de Garibaldi, certamente alguma batalha ganha.

Meu vô - dono de um destes rádios clandestinos - faz pose blasé, como dizendo: 'Viva a virtualidade que tudo ressuscita’.

Até mais...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Un bel mondetto!

Esses olhos viram...O pároco do bairro sentar-se confortavelmente e iniciar um relato por ele vivido.

Uma vovó, quase centenária lutava desesperadamente contra sua debacle física. Certamente de muitas lutas vencidas, ela não se entregaria jamais. Várias extremas-unções nas noites frias, inúmeros rebates falsos, tantas fornadas de cucas para acepipe do velório e...nada. Um rochedo!

Da última chamada, o vigário retornava naquele momento e acabrunhado contou-nos seu diálogo com a anciã.

Chegando perto da moribunda soprou:
'Nonna! Siamo tutti stanchi. Bisogna che Lei vada in pace. Nell’altro mondo non ci sono paure, e non ci sono malatie. Chiuda gli ochi e andiamo insieme!' *

A vovó virou a cabeça e num leve esgar sussurou:
'Ma prete, anche questo è un bel mondetto!' **

*- ‘Vovó! Estamos todos cansados. É preciso que você fique em paz. O outro mundo é sem medos, sem doenças. Feche os olhos e vamos juntos.’

** ‘Mas padre, também este é um belo mundinho!’
As exéquias se realizariam meses depois. Uma bela lição...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mein fünf lieben!. - (Minhas cinco amadas)

Meados da década de 50.

Cercados por vizinhoz alemães, nós os italianos, fazíamos com eles o Eixo. Nossas amizades transcendiam o meramente formal. As tradições germânicas eran trocadas pelos costumes itálicos. Uma destas tradições era cada um possuir suas cinco mulheres amadas.

Após muito tergiversação, consegui as minhas: Maúde, Maetê, Marilu,Malú e Maísa.

Todos na vizinhança possuiam seus quintetos. Algumas eram magricelas e desminlingüidas, outras fornidas e cheinhas. Os bailes - com elas - eram acrobático e se realizavam nos átrios planos e lisos das casas que os tinham. Cada quinteto vestia-se de forma igual.

Na dança, enquanto uma das amadas saltava em piruetas no ar, leve e solta, antes de tocar a nossa mão, as outras quatros eram sistematicamente tapeadas para dentro do castelo. A porta de entrada era compposta por duas vigas: a média a a indicadora, além do do travessão polegar. Conforme a tática de montagem, a porta dobrava de tamanho, possibilitando a entrada de todas amadas simultaneamente no balê final.

As regras eram dezenas e os passos das danças paulatinamente mais complicados. Uma arte este jogo chamado cinco-marias.

Uma de nossas diversões pré televisão.